Sempre que alguém recorre a nós, psicólogos, para dar início ao seu processo de mudança, ao seu processo psicoterapêutico, tem de se despir das suas defesas, aceder a memórias, recordações, sítios escondidos na sua mente que condicionavam e guardavam todo o seu sofrimento. Para mim é um privilégio enorme, enquanto psicóloga, poder ter acesso a tantas histórias, tão pessoais, tão únicas, provenientes de alguém que a dado momento percebeu, da sua coragem, que precisava de ajuda. Tem de ser uma honra que alguém queira partilhar os seus medos, as suas dúvidas, os seus segredos e a sua dor connosco, mas é também e acima de tudo uma grande responsabilidade. É por isto, também, que não acredito que apenas uma linha de orientação teórica seja suficiente para explicar o ser humano e a complexidade do seu funcionamento.
Tendo sempre como objetivo final a resolução de problemas e o bem-estar das pessoas que me procuram, acredito que existem inúmeros caminhos possíveis para lá chegar. Para mim, a relação terapêutica é o veículo, que me permite ir a mim e aos que me procuram desde o problema à solução, porém o caminho que cada pessoa percorre e a velocidade a que vai, depende de inúmeros fatores. Acredito que para que este caminho possa ser percorrido, tem de existir um ambiente de segurança e de bem-estar que promova nas pessoas que me procuram a capacidade de confiar em mim e, assim que isto acontece, a minha responsabilidade aumenta exponencialmente.
Acredito também que é preciso um vasto conhecimento sobre psicologia clínica e psicoterapia para podermos fazer um bom trabalho. No entanto, apesar de tudo isto, continuarei a insistir que a noção da responsabilidade e do privilégio que é ter cada pessoa à nossa frente, num processo psicoterapêutico connosco, é uma das ferramentas principais para o sucesso terapêutico.
Não me lembro do momento em que decidi ser psicóloga, mas recordo como se fosse hoje a primeira consulta, o primeiro cliente, o dia em que tive a certeza de ter escolhido o caminho certo. Sou grata todos os dias por ter o privilégio de tantas vezes ter sido única na vida de alguém que comigo pode dividir a sua solidão, as suas feridas, os seus medos mais profundos. Alguém que sonhava ser mais feliz, estar mais satisfeito consigo e com as suas vivências e que comigo descobriu que isso só é possível quando nos conhecemos realmente, nos aceitamos e, não raramente, nos perdoamos. Ser psicóloga é sem dúvida a melhor profissão do mundo, apesar de tudo e por causa de tudo.